Caderno de qualquer coisa

 

Sou meio acumuladora, tenho pena de usar as coisas e acabo guardando elas por tempo demais, acho que o maior exemplo foi um caderno que ganhei quando ainda era criança. Na ocasião eu pensei que poderia usá-lo para algo especial, achava ele bonito, era enfeitado, as folhas eram coloridas e com marca d’água de…pasme: Lilica Ripilica. Além de achar ele muito bonito para ser usado para qualquer coisa, ele era algo totalmente fora da minha realidade (financeira), e eu, ou no caso, meus pais, não poderiam comprar nada similar a ele quando este chegasse ao fim. 


Então veja, ele tinha valor estético, valor monetário e eu queria que tivesse valor afetivo, logo, só poderia ser usado para algo realmente importante, nada de anotações de aulas ou transformar em agenda, nananão, nada disso. Precisava ser algo grandioso…seja lá o que poderia ser tão grandioso para alguém de 11 anos… ou de 12… ou de 13… ou de 14e por aí vai. 

É, é isso, foram se passando anos e mais anos e eu nunca conseguia decidir o que poderia ser tão valoroso para ser anotado nele, até que ele ficou esquecido na prateleira pegando poeira por muitos e muitos anos. O caderno que tinha toda a magia, beleza e valor, acabou em um canto da casa com menos afeto que um caderno simples comprado à 10 reais (acho que nem existe mais caderno desse preço hoje em dia, uau). 

Esse ano, o tirei da prateleira, o que é pelo menos uns 15 anos depois de ganhá-lo, já não recordo o ano exato de quando ele me foi dado, mas é próximo disso. Ele estava sujo, o elástico que prendia a capa estava estragado (troquei por um branco que achei aqui), e tinha apenas 3 páginas escritas com poemas potencialmente duvidosos que escrevi em algum momento do passado (na época devo ter achado que seria algo bom e importante, mas provavelmente desisti logo depois, considerando as 3 páginas gastas, somente). 

Estava em busca de fazer algo com um caderno, não sei bem de onde veio a ideia, nem sabia o que escrever, mas pareceu uma boa ideia usá-lo, agora sem a necessidade de que precisaria ser algo SUPER importante. Por fim, pensei em fazer colagens, escrever coisas aleatórias nele, fazer desenhos sem pretensão. Apenas deixar qualquer coisa fluir, picotar papel e colar, reviver a experiência de criança de não me preocupar com estética, com borrões, apenas ir lá e fazer alguma coisa para focar no presente (o que pra mim é difícil, considerando o quanto de tempo fico ansiosa e pensando no futuro).

Desde então tem sido libertador, é ótima a sensação de poder fazer qualquer coisa sem pressão, de perdoar meus erros quando borro o papel, de não precisar ter algo “bonito”. Assim ele virou um pequeno inventário da minha vida que venho nutrindo nos últimos meses. E, no fim de contas, quando deixei de querer utilizá-lo para algo importante e grandioso, foi quando acabei fazendo isso, afinal, fragmentos dos meus dias e de quem sou talvez seja algo importante e grandioso.

O caderno e algumas folhas atualmente usadas.


Foto de capa por Aaron Burden na Unsplash

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