Sou meio acumuladora, tenho pena de usar as coisas e acabo guardando elas por tempo demais, acho que o maior exemplo foi um caderno que ganhei quando ainda era criança. Na ocasião eu pensei que poderia usá-lo para algo especial, achava ele bonito, era enfeitado, as folhas eram coloridas e com marca d’água de…pasme: Lilica Ripilica. Além de achar ele muito bonito para ser usado para qualquer coisa, ele era algo totalmente fora da minha realidade (financeira), e eu, ou no caso, meus pais, não poderiam comprar nada similar a ele quando este chegasse ao fim.
É, é isso, foram se passando anos e mais anos e eu nunca conseguia decidir o que poderia ser tão valoroso para ser anotado nele, até que ele ficou esquecido na prateleira pegando poeira por muitos e muitos anos. O caderno que tinha toda a magia, beleza e valor, acabou em um canto da casa com menos afeto que um caderno simples comprado à 10 reais (acho que nem existe mais caderno desse preço hoje em dia, uau).
Esse ano, o tirei da prateleira, o que é pelo menos uns 15 anos depois de ganhá-lo, já não recordo o ano exato de quando ele me foi dado, mas é próximo disso. Ele estava sujo, o elástico que prendia a capa estava estragado (troquei por um branco que achei aqui), e tinha apenas 3 páginas escritas com poemas potencialmente duvidosos que escrevi em algum momento do passado (na época devo ter achado que seria algo bom e importante, mas provavelmente desisti logo depois, considerando as 3 páginas gastas, somente).
Estava em busca de fazer algo com um caderno, não sei bem de onde veio a ideia, nem sabia o que escrever, mas pareceu uma boa ideia usá-lo, agora sem a necessidade de que precisaria ser algo SUPER importante. Por fim, pensei em fazer colagens, escrever coisas aleatórias nele, fazer desenhos sem pretensão. Apenas deixar qualquer coisa fluir, picotar papel e colar, reviver a experiência de criança de não me preocupar com estética, com borrões, apenas ir lá e fazer alguma coisa para focar no presente (o que pra mim é difícil, considerando o quanto de tempo fico ansiosa e pensando no futuro).
Desde então tem sido libertador, é ótima a sensação de poder fazer qualquer coisa sem pressão, de perdoar meus erros quando borro o papel, de não precisar ter algo “bonito”. Assim ele virou um pequeno inventário da minha vida que venho nutrindo nos últimos meses. E, no fim de contas, quando deixei de querer utilizá-lo para algo importante e grandioso, foi quando acabei fazendo isso, afinal, fragmentos dos meus dias e de quem sou talvez seja algo importante e grandioso.
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